Pérolas negras, uma arqueologia caseira

Fragmento da capa do disco Clementina cadê você?, de 1970

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Por Cristiane Santos*

Que desafio escrever alguma coisa sobre o que li e fui convidada a ouvir escrever! Um brinde à Resistência Negra, das vozes que ecoaram e ecoam pelo mundo e pelo Brasil, presente nesta arqueologia caseira, que eu leio como “geomusicaafro” do professor Reigota e de sua amiga e parceira Rita Zan.

A seletividade criteriosa da playlist acalenta as angústias que experimentamos no cotidiano, provocadas pela violência exacerbada dos que se encontram no poder, aqui e acolá. Nesses textos encontro um refúgio para respirar e inspirar a força motriz das mulheres negras que com suas vozes se fazem e se fizeram ouvir, em busca de uma sociedade com equidade. A música é poesia, é pedagógica e nos permite através da escuta sensível (como tanto enfatizou nossa amiga e colega Marta Catunda) nutrir nossas bandeiras de lutas e nos conectar em rede e na rede dos que ousam sonhar e materializar suas lutas. Lutas essas de resistência e de combate ao extermínio da população negra, lgbtqia+, dos povos originários, das mulheres, dos migrantes e refugiados e da natureza.

Encontrar o Reigota foi, para mim, um momento sem precedentes que desvelou o racismo experimentando na jornada da minha vida por intermédio do reflexo reluzentes dos olhos azuis (ou seriam verdes?) do Marcos, que aguardava minhas indagações e contribuições políticas e pedagógicas no espaço acadêmico da Universidade em Sorocaba no sentido de esperançar como nos lembra Paulo Freire. Que honra e que alegria eternizada no meu viver ter tido a oportunidade de ser sua orientanda e levar para seus seminários algumas playlists com marcas do interior, do velho oeste, onde ele e eu nascemos e entrelaçar nossas raízes rizomáticas, que são também as da Rita Zan.

Ali, naquele mundão universitário, pude me conectar com as/os camaradas freireanos, que estão por aí, pedagogicamente, cantando. E nós estamos aqui prefaciando a Resistência do fazer, aprender e sobreviver no cotidiano de tantas incertezas diante da pandemia e dos forasteiros no poder. Aqui estamos incrédulos, mas não impassíveis, diante dos que os acompanham e se deleitam com tanto ódio. Meu deleite é amorosidade, o respeito à vida, embalados pela coragem para enfrentar esse lamaçal de horrores, de mãos dadas com essas mulheres selecionadas na arqueologia caseira do Marcos e da Rita, que transcende nossas esperanças e permite respirar, com as histórias resgatadas pelos fios das lembranças afetuosas e corajosas que experimentamos no passado, resistimos no presente, para embalar e ecoar a Vida repleta de esperanças pela e na dignidade humana.

Cante, dance, faça uma batucada. Em breve estaremos numa rodada de samba, celebrando a nossa Resistência com amorosidade freireana, embalados na “geomusicaafro”, pelas pistas de liberdade que a Marta Catunda nos legou, com tanta generosidade. Cara amiga Rita, caro amigo Marcos, um brinde à Perola Negra que transcende em nossas Vidas.


Negra Sou!

Um abraço negro e um Sorriso Negro das bandas do velho oeste.

Saudações Cordiais

*Ativista, assistente social e mestre em educação pela Universidade de Sorocaba. Mora em Lins-São Paulo. Este texto consta como apresentação da primeira parte do ebook Pérolas negras (na música brasileira).

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