Rifa para trazer as vozes de Porchia

A Casatrês (vulgo Felipe Moreno e Marília D. Jacques) tem desejos de publicar obras estrangeiras inéditas no Brasil. Um deles — desejo inabalável, quase sonho — é publicar a preciosa (e, infelizmente, quase desconhecida no país) obra do argentino Antonio Porchia (1885-1968). Publicar Antonio Porchia, no caso, é publicar o único livro que escreveu em toda a vida: Voces.

Trata-se de uma obra curta, que transita entre a poesia e o aforismo, a literatura e a filosofia; fragmentos que raramente ultrapassam uma linha; “vozes” e mais “vozes” cuja visão e estilo não têm paralelo na literatura moderna e que, em tom e ternura inigualáveis, desabrocham, pouco a pouco, as dores e alegrias da condição humana.

Temos as vozes de Porchia como um tesouro da literatura universal. Não é exagero, tampouco um parecer nosso. Assim as consideram nomes como Jorge Luis Borges, André Breton, Alejandro Jodorowsky, Alejandra Pizarnik.

A primeira edição de Voces foi em 1943, custeada pelo próprio autor. Anos depois, através da fundamental contribuição de Roger Caillois, ensaísta e crítico literário francês, a obra foi bem recebida e causou impressão na França. Desde então, foi traduzida para o francês, inglês e alemão.

Mas por que, afinal, uma obra tão singular, muito próxima a nós — tanto linguística quanto geograficamente — nunca foi publicada por aqui? Praticamente desconhecido em nossas terras, a ausência de Porchia foi decisão arbitrária, equívoco, deslize? Não sabemos ao certo. E não nos delongamos nessa investigação: essa estranha lacuna, esse silêncio aparentemente desinteressado dos editores brasileiros, para nós, serviu como oportunidade de meter as caras e fazer a proposta.

Mantemos firme as abordagens diretas, espontâneas, que visam desfazer formalidades e desviar de burocracias e hierarquias do meio editorial. Aproveitamos a maravilhosa tecnologia do e-mail e, não importa quem, apresentamos quem e como somos (pequenos, artesanais e caseiros); fazemos a proposta simples e honesta; perguntamos sobre a possibilidade de publicação, quanto custa etc. A premissa é sempre a do senso comum, a do jeito brasileiro de ser: no máximo, um não; ou um não retorno; e sempre a possibilidade do sim, por que não? E-mail é (quase) de graça e nunca custa tentar. Dos vários não retornos que tivemos, colhemos alguns bons sinais positivos. Voces é um deles.

Pois, para nossa surpresa e alegria, os detentores dos direitos autorais da obra de Porchia, empáticos e gentis, ficaram muito interessados na possibilidade de uma versão de Voces, em português, “hecha a mano” (feita à mão).

A parte séria da história — e decisiva — é que, para adquirir os direitos autorais desta obra extraordinária e inédita em português, nos custará 300,00 dólares, cerca de 1.430,00 reais. Por não termos esse dinheiro disponível em caixa, pensamos em declinar a parceria. Mas declinar, sem antes buscar outras vias, seria uma tristeza.

A tradução e publicação artesanal da preciosíssima Voces valem nosso esforço de criar esta campanha de arrecadação, em forma de rifa. Sim, rifa, em vez de um financiamento coletivo: é tradicional, popular, tem algo da nossa infância, da época de escola, das relações de bairro; é inocente, singela; logo, a própria ideia da arrecadação através de uma rifa tem mais relação com o perfil de Antonio Porchia, homem simples, discreto, humilde, antierudito — um doce senhorzinho de bairro, e poeta refinado, e sábio.

No nosso último e-mail com os editores, ficou acordado que, dentro de um mês, daremos a devolutiva — ou seja, se teremos ou não a grana para comprar os direitos autorais.

Portanto fazemos, aqui, a aposta e o apelo. Nossa rifa contém 290 números e custa apenas R$ 5,00. O óbvio válido de ser lembrado: quem puder contribuir com a compra de mais números, aumenta as chances de ganhar — e, em último caso, as chances de a Casatrês trazer as vozes. A pessoa sorteada receberá um pacotão de mimos artesanais da editora, a saber:

O sorteio acontecerá no dia 03 de julho, domingo.

Cinco reais já é boa colaboração para darmos esse passo ambicioso de trazer essa singular obra estrangeira para esta língua e este país que, temos certeza, merecem e adorarão acolher Antonio Porchia — e, além do mais, numa produção independente, feita com admiração, carinho, alegria e coragem. “Hecha a mano”, como dizem “los hermanos”. Enfim, temos a chance de ser a primeira editora no mundo a publicar Voces de forma artesanal e, para isso, pedimos seu apoio.

Para concorrer, transfira o valor para o PIX 35.694.263/0001-22. Depois, é só mandar o comprovante via DM do instagram ou e-mail (contato@casateseditora.art.br) e escolher o(s) número(s).

Boa sorte para todo mundo que chegar junto!

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